Casa VÍDEOS Esportes Dora Varella mira Los Angeles e vira referência de novas skatistas: ‘Elas que são minha inspiração’

Dora Varella mira Los Angeles e vira referência de novas skatistas: ‘Elas que são minha inspiração’

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Dora Varella mira Los Angeles e vira referência de novas skatistas: ‘Elas que são minha inspiração’

Foto: Alexandre Loureiro/COB

Dora Varellaskatista da seleção brasileira feminina de park

Quando o skate estreou em Jogos Olímpicos, em Tóquio-2020, Dora Varella foi uma das brasileiras na final. Aos 20 anos, ficou na sétima posição. Um ciclo depois, em Paris-2024, foi a única brasileira a disputar medalha e terminou em quarto lugar, aos 22 anos.

Enquanto se recupera de uma sequência de lesões, a skatista paulista não fica parada. Ela chegou a disputar a etapa de Porto Alegre do STU Pro Tour, mas admite que foi “mais ou menos”. A mira está em Los Angeles-2028, mas, antes disso, Dora para em Saquarema, no Rio de Janeiro.

A capital do surfe brasileiro abraça o skate no REMA (Rua, Esporte, Mar e Arte). O festival é derivado do WSL Saquarema Surf Festival, que corre entre 12 e 20 de abril. No mar da Praia de Itaúna, ocorrem qualificatórias que podem render 6 mil pontos para a temporada 2025/26, além de competições regionais da WSL na América do Sul e as categorias Pro Junior (Sub-20) e Longboard Pro.

Skate integra programação do do REMA, na Praia de Itaúna, em Saquarema, no Rio. Foto: Divulgação/213Sports

O skate entra em cena no primeiro fim de semana do evento, com o REMA Skateboarding Challenge. A competição será disputada por dois times. Dora Varella vai ser capitã de uma das equipes, enquanto a sua companheira de seleção brasileira de skate, Isa Pacheco, comanda a outra.

Cada time terá sete skatistas, incluindo Pedro Barros e Luigi Cini, da seleção masculina. As equipes vão se enfrentar em disputas individuais durante a etapa eliminatória, em que os skatistas terão três voltas de 40 segundos para pontuar e avançarem à etapa final.

A decisão será no formato “jam session”, com os times podendo colocar até dois skatistas simultaneamente na pista para fazer manobras sincronizadas ou ensaiadas. As capitãs dos times terão vagas garantidas na final, que será definida pela maior pontuação geral.

Dora Varella conversou com a reportagem do Estadão antes do festival. A skatista conta sobre como está se recuperando, avalia o nível do skate brasileiro e mundial, projeta uma longa carreira e confessa que não ignora o momento de parada, mas fica aliviada por saber que ainda está longe.

Você voltou a correr faz pouco tempo, já teve uma aparição recente em Porto Alegre. Qual a expectativa para Saquarema?

Eu me lesionei em setembro do ano passado. Machuquei o ligamento de joelho. Fiquei três meses e meio parada para recuperar e logo que eu voltei, nem um mês, eu dei uma estirada num músculo, num tendão e aí fiquei “um mêsinho” parada e voltei agora para o STU de Porto Alegre. Ainda estava meio ruimzinha e na sequência já teve o Mini Ramp Pro Attack, na semana seguinte.

Então, participei desses dois eventos e voltei para São Paulo. Fiquei essa semana inteira sem andar, recuperando, agora que eu estou voltando para poder ir para o festival de novo, em Saquarema.

‘Meio ruinzinha’ em Porto Alegre, mas ficou em quarto lugar…

Ah, é (risos). Não tive muito tempo de treinar, mas eu dei meu máximo. Em Saquarema, é a segunda vez que vai ter o mini ramp. Eu nunca fui para esse evento. O Ítalo (Penarrubia, também skatista), meu namorado, foi no último e já me contou que é muito legal.

Dessa vez chamaram as meninas, eu e a Isa. Eu fiquei muito animada, porque eu nunca fui para Saquarema e nem para esse evento e é muito muito legal quando tem evento de surf junto com o skate assim, fica uma vibe muito boa e ainda mais esse formato que é por times, né? Na mini ramp é diferente. Eu estou bem ansiosa.

Dora Varella foi a única brasileira na final olímpica em Paris-2024. Foto: Alexandre Loureiro/COB

Sem tanta pressão como uma Olimpíada, é possível curtir mais?

Com certeza. Quando a gente compete Olimpíada ou até os eventos classificatórios para as Olimpíadas, né? Que a gente sabe que o resultado ali é muito importante, que está todo o mundo vendo… a gente sente uma pressão. É o nosso ponto principal na nossa profissão hoje em dia.

Então, quando a gente participa desses eventos, que são o principal objetivo no momento começo da carreira, dá um nervosismo a mais, uma tensão a mais. Tem de se preparar mais.

E, quando são esses eventos de mini ramp, que não é uma modalidade que tem competições mundiais… É uma modalidade que dá para ver um alto nível de skate, mas normalmente é onde todo mundo inicia, é base do skate. Foi onde eu comecei, e eu acho muito divertido voltar para essa base e poder estar com os amigos, se puxando, sem pressão nenhuma. É uma diversão com o skate e fazendo o que a a gente mais gosta: andar de skate e estar com os amigos se divertindo.

Em Paris, você arriscou um heel flip transfer para classificar à final. Como está, digamos, seu portfólio de manobras hoje?

Como eu lesionei, fiquei muito tempo sem treinar nada. Logo que eu voltei, eu estava ali retomando a confiança e as manobras. E você perguntou do heel flip. Realmente foi uma obra que eu tinha treinado muito para a Olimpíada. Eu estava com ela segura, sabia que eu ia acertar.

É uma manobra importante nas linhas do campeonato e, depois que eu machuquei, eu destendi o músculo. Para dar essa manobra, eu preciso de bastante amplitude e, com o músculo e o tendão estirado, eu perdi isso completamente. Então, como ainda está machucado, em processo de cicatrização, eu não consigo dar ela. Então, ainda tenho que esperar cicatrizar, passar a dor, melhorar a amplitude, assim eu vou poder dar ela.

Dora Varella vai comandar um dos times na competição de skate do REMA, em Saquarema, no Rio. Foto: Alexandre Loureiro/COB

É por isso que em Porto Alegre também, eu não tinha muito o que fazer para dar essas manobras mais difíceis. Eu tive que brincar com o que eu tinha, mas realmente isso é o que me mais me pega. Eu não poder dar essas manobras que são super importantes para as competições no momento, mas eu estou recuperando já, já vou poder.

Mesmo depois da lesão, eu fui para Califórnia treinar e aprendi uma manobra que eu tinha tentado faz tempo, que é o 540, o McTwist no half. Lá tem um centro de treinamento incrível, que facilita muito. E eu aprendi lá.

Isso foi logo antes de Porto Alegre. Ainda quero treinar bastante essa, que é a mais recente que eu aprendi, no meio dessas lesões todas.

Como é para você assumir uma posição de referência, inclusive na seleção brasileira, depois de você ter começado já muito nova, em outro momento do skate?

Isso é bizarro. Na minha época, não tinha muitas referências. Eu, Yndi (Yndiara Asp), a Isa, por exemplo, a gente teve de abrir portas mais do que buscar referências para se inspirar. Hoje em dia, as meninas que estão surgindo, elas têm referência, o nível do skate aumentou muito. A margem de aonde elas querem chegar está em um patamar mais alto. Na minha época, o nível do skate era menor, então a gente achava que era aquilo que a gente podia chegar. Hoje em dia, a gente já teve de mudar nossa cabeça e, mesmo mais velhas, se puxar para acompanhar esse ritmo.

As meninas falam que a gente é inspiração. Eu acho que elas que são minha inspiração, porque elas, com apenas 10 ou 12 anos, já aprendem manobras que nenhuma menina fazia quando eu comecei. Agora muitas fazem, e elas já aprendem logo de cara, facinho.

É muito legal estar na seleção junto dessas meninas, poder crescimento. As portas já estão abertas, tendo premiação igual, tendo essa estrutura da seleção, esse investimento, essas coisas a gente não tinha a gente. Tivemos de batalhar para ter premiação igual, para ter investimento. Quando eu comecei, também não era esporte olímpico, então, não tinha preparo físico, nutricionista, não tinha nada disso, eu tive que aprender junto de todos os skatistas da minha época. Hoje já está bem mais estruturado. É legal também passar para elas tudo o que eu aprendi caminhando junto.

Yndiara Asp e Dora Varella representaram o Brasil no skate park em Tóquio-2020 e repetiram parceria em Paris-2024. Foto: Miriam Jeske/COB

Quando você falou com o Estadão antes de Tóquio-2020, você estava terminando a escola. Como está hoje sua vida em outras frentes além do skate? Tem planos para o futuro?

Essa pergunta é boa. Essa eu não respondo normalmente. Mas realmente, eu estava saindo da escola, me preparando para Olimpíada. Bem nessa fase, eu sabia que não era a época de começar faculdade, nem de prestar Enem, porque eu tinha uma Olimpíada no ano seguinte, eu ia acabar não conseguindo focar 100% em nenhum dos dois. Eu sei que poderia deixar isso mais para frente, ali estava dando certo, estava me classificando, eu resolvi focar 100% no skate.

E acabou que fui bem lá, fui para final em Tóquio, e o skate continuou dando muito certo. Vários eventos super legais surgindo. Eu acho que o mais importante, quado está dando certo, é focar 100%. Se eu começasse uma faculdade ou algo assim, eu ia acabar não tendo tempo direito para nenhum dos dois e achei melhor focar no skate.

Eu consigo fazer o que eu mais amo da minha vida, chamar de trabalho. Mas, claro que eu estou me preparando para quando isso acontecer (parar), espero que ainda tenha muito tempo pela frente, que eu consiga me manter ali no topo, que é difícil acompanhar essas menininhas que estão surgindo. Mas eu tenho plano, sim, de fazer outras coisas.

Eu já fiz várias publicidades com marcas, de modelo, de aparecer em mídia de outras formas. Eu também gosto bastante preparo físico, então essa coisa da linha fitness. Ainda não sei exatamente o quê, mas, depois que acabar a minha carreira de skate de alta performance, eu tenho em alguns planos.

Há seis anos, outra vida no skate

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Em 2019, Dora Varella conciliava preparação para primeira Olimpíada e terminar os estudos.

Até porque tem muito tempo ainda. O skate começa cedo. Recentemente, foi determinado o limite mínimo de 14 anos para disputar o skate em Los Angeles. O que você pensa sobre isso?

É justificável. Colocaram de 14 anos na Olimpíada. Atualmente, por exemplo, quem vai competir nos mundiais deste ano, a idade limite é de 11 anos, o que é muito jovem.

Não tem nem por que uma pessoa com menos de 11 anos competir mundiais de alto nível, na elite do skate. Eu acho que as pessoas não podem pular etapas da vida. A criança que tem 10 anos hoje em dia, ela tem de se divertir muito, treinar, passar por todas as fases. Ela não teria de estar pensando em nutricionista, em preparo físico nesse momento. Quando eu comecei com 10 anos, eu queria me divertir e foi assim que eu evoluí.

Quando eu senti que eu estava precisando pensar mais no preparo físico, eu já tinha 14 anos para cima mesmo. É até difícil pessoas hoje em dia de 11, 10 anos consiguirem notas boas e se classificar aos mundiais, porque o nível está muito alto e precisa de experiência nesses torneios. Não é só você ter as manobras, né?

Você precisa saber montar uma linha, ter ali toda uma estratégia de competição e você precisa também de uma força que dá a diferença nas notas, que às vezes essas crianças, meninas mais do que meninos, que estão vindo mais novas, não têm ainda. Acho que esse essa idade de 14 anos não vai afetar quase ninguém.

Se fosse antes, ia. Mas, daqui para frente, com o nível que está, para se classificar e ir bem, acho que ninguém com menos de 14 anos vai conseguir isso. É para as crianças não pularem etapas de carreira no skate. Então, uma pessoa que tem 11, 12, 13, 14 anos não pode já correr com os profissionais. Tem de passar pelo amador, ganhar experiência de competições, um caminho para você seguir. Se você pula essas etapas, as crianças às vezes se perdem, se frustram, ou os pais colocam muita pressão. É importante para não cobrar demais dessa criança, que ainda tem muito que viver, ter experiências para poder chegar lá já com maturidade.

Aos 23 anos, hoje, você consegue se divertir ainda?

Com certeza. É sempre o que eu procuro, antes de tudo, mas eu sei que tem responsabilidades junto. Com 10 anos não tinha nenhuma.

Se eu sinto que está sobrecarregando alguma coisa, eu paro, faço uma sessão descontraída, lembro de por que eu ando de skate. E claro que tem os compromissos, tenho que focar na suplementação, na alimentação, preparo físico para evitar lesão, até porque estou velha, tá vendo? (risos) Tô me lesionando um monte. Mas, além disso, andar de skate, sempre com os amigos, é o mais importante assim.

E não se pode esquecer disso. Até na Olimpíada nos divertimos, quando viajamos o mundo inteiro, aproveitamos a oportunidade para nos divertir. Na hora de focar, focamos, mas temos tempo para curtir também.

Fechando de volta em Saquarema. Você arrisca surfar também?

Olha, eu já surfei algumas vezes na minha vida. Me dei melhor na piscina de onda. Mas depende, se o mar tiver de boinha, dá para tentar. Dá para alguém me ensinar ali.

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