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Suspeita de envenenamento desejava “ver familiares em caixão”, dizem vizinhos de vítimas

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Suspeita de envenenamento desejava “ver familiares em caixão”, dizem vizinhos de vítimas

André Ávila / Agencia RBS
Parte da família morava na Rua Candelária, no Bairro Mathias Velho, em Canoas.

Pouco fluxo, janelas semiabertas e murmúrios entre os moradores. O cenário de calmaria na Rua Candelária, no Bairro Mathias Velho, em Canoas, nesta sexta-feira (10), camufla a angústia de pessoas próximas e parentes da família que viram as festas de fim de ano darem espaço para lamentações e a tragédia.

O baque com o envenenamento de um bolo com arsênio, em Torres, no Litoral Norte, em dezembro, e que vitimou três mulheres que residiam no bairro, tomou o lugar dos sentimentos de alegria e companheirismo pelos anos de amizade e boas relações entre quem se vê afetado pelas perdas de Neuza Denize Silva dos Anjos, Tatiana Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva.

A relação familiar, segundo parentes e amigos, era tida como exemplar e harmoniosa. A exceção, no entanto, era o convívio entre Deise, presa pela polícia suspeita de ter provocado as mortes por envenenamento, e o marido, Diego, com os sogros e demais parentes. Conforme relatos, ela havia afirmado que desejava ver familiares “em caixão”.

Os familiares envolvidos na tragédia residiam próximos, em Canoas, até a enchente de maio de 2024, quando Zeli Teresinha dos Anjos e Maida mudaram-se para Arroio do Sal.

O motorista aposentado Oscar dos Anjos, 72 anos, mora ao lado das casas de Neuza e do companheiro dela, João, além da de Tatiana, o marido e o filho, de 10 anos. Ele recorda que os casais  tinham boa relação com os demais familiares e que também eram muito solícitos aos vizinhos, em especial, os mais antigos.

Para ele, que é primo de João, a tragédia foi uma surpresa, mesmo tendo conhecimento de que a relação entre Zeli, a “Têca”, e a nora não era boa. 

— A gente estava acostumado a conversar bastante por aqui. Foi um baque e é difícil voltar ao normal. Não esperávamos por um episódio como esse. Sabíamos que a relação entre eles (Paulo, Zeli e a Nora) tinha problemas, mas não tinha como imaginar algo assim — lamenta.

Essa relação conturbada contrastava com o bom convívio entre os demais familiares, conforme Menair Maria da Silva, 60. Ela afirma que conhecia Zeli, que preparou o bolo consumido em Torres, e o marido há 40 anos e mencionou que a relação com todos os afetados sempre foi muito amigável, com exceção de Deise e o marido.

— Com a Deise, eu nunca conversei. Passava por aqui e nem olhava na cara. Com o Diego, só falei uma vez a vida toda — recorda.

No pátio da casa de Zeli, em Canoas, foi possível notar a existência de uma segunda residência, de dois andares, onde Deise e Diego moravam antes do afastamento com os familiares.

Conforme os relatos obtidos pela reportagem, Deise e o marido se afastaram de amigos e parentes há mais de uma década.

Apesar das desavenças, Menair lembra que Zeli tentava se aproximar do filho, da nora e do neto.

– Elas tinham esses problemas, mas nada que ela saísse falando aos quatro ventos. Ela queria muito ter um neto e pedia ao Diego e a Deise quando ainda tinham boa relação. Só que ela não o via nunca – contou.

Ameaças e afastamento

Um dos que eram vizinhos de Tatiana e Neuza dos Anjos, duas das vítimas da tragédia, que não quis se identificar, disse à Zero Hora que uma das delas revelou aos amigos que Deise ameaçava toda a família, desejando ver todos mortos em um caixão. 

A família, segundo ele, também suspeitava que Deise poderia ter matado o sogro, ainda em setembro, após ser envenenado também com arsênio, o que foi confirmado nesta sexta. 

– Quando eu conversava sempre com a Tati, ela dizia: “eu tenho certeza que ela matou meu tio” e que eles teriam sumido com o cacho de banana. A Tatiana dizia que essa mulher não presta. Disse pra nós que a mulher falava que desejava ver todos em um caixão. A relação da família, no geral, era muito boa, exceto pela Deise e o Diego, mas principalmente ela – relatou.

Além disso, um dos fatos relatados por amigos e familiares foi uma ação de Deise após as mortes das três mulheres contaminadas por arsênio. No velório delas, a suspeita presa pela polícia foi se despedir das vítimas levando rosas e escapulários, colocando-os nas mãos de cada uma delas.

Pessoas próximas da família, ao verem a ação, retiraram os objetos e teriam criticado a mulher, que na ocasião não era tratada como suspeita.